terça-feira, 30 de setembro de 2014

Como assim "não tenho objetivos na vida"?

Eu não estava satisfeita com a resposta dela! Como assim "não tenho objetivos na vida"? Era a segunda vez que ela me dizia isso, só que com outras palavras. Na primeira vez foi algo como "não acredito nesse negócio de sonhos, não, professora. Isso é besteira!". Da mesma forma que ocorreu na primeira situação, a resposta de hoje me deixou incomodada. Decidi conversar. Perguntei o que ela iria fazer no futuro, para se sustentar quando os pais não estivessem mais cuidando dela. Ela disse que não sabia. Tentei por outro caminho. Quis saber o que ela gostava de fazer. Por aí tive mais sucesso. Ela respondeu que gostava de música. Isso era evidente, pelo seu jeito meio roqueiro somado ao pingente de clave de sol sobre a blusa da escola, e ao fato de estar sempre com fones de ouvido nos horários vagos. Com seu jeito doce e arredio, ela disse que tinha um violão, mas não sabia tocar. Foi nesse momento que seus olhos se encheram de lágrimas. Percebi que nossa conversa atingiu o coração dela. Perguntei por que ela não sonhava em trabalhar com música, já que gostava tanto. Disse que havia tantas possibilidades: produtora musical, artista, dona de estúdio de gravação, professora de música... Ela respondeu: "meu pai não acredita em mim. Ele disse que isso não traz futuro." Nesse momento, as lágrimas já molhavam seu rosto antes implacável. Eu disse que ela poderia mostrar aos pais que era isso que ela queria, que era o seu desejo e que poderia ser bem sucedida e feliz fazendo o que gosta. Contei que meu pai também demonstrou certo desânimo quando eu disse que gostaria de ser professora, mas isso não me fez parar de sonhar. Disse que conquistei o orgulho do meu pai fazendo o que amo e sendo feliz. Nos abraçamos. Ela voltou ao seu lugar com o trabalho na mão. Em sua mesa, apagou a resposta que tinha dado e escreveu que seu objetivo era estudar música.
Me dei conta de que no meio de tantas dificuldades relacionadas à minha profissão, não posso deixar de perceber o quanto posso colaborar para a formação dos jovens com os quais convivo diariamente. Talvez ela encontrasse outra pessoa para incentivá-la, para mostrar que é possível e preciso sonhar, mas hoje eu estava perto, disponível e disposta a ouvir, e ajudar. 
Não temos que ter medo de sermos professores sensíveis. Na verdade, precisamos disso em nosso relacionamento com nossos alunos. Claro que não iremos resolver todas as questões problemáticas que eles enfrentam, mas só o fato de não ignorarmos os sinais de alerta que eles enviam, mesmo sem querer, já é muito. Quando nossos alunos perceberem que nos importamos de verdade com eles e que os respeitamos como indivíduos, muita coisa vai mudar para melhor. Eu acredito de verdade nisso. Muitas vezes uma simples conversa pode reescrever uma história, um simples sorriso pode salvar uma vida, um abraço na hora certa, pode mudar o mundo de alguém.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Troca de ideias no ensino de valores

Tão bom e animador é quando a gente faz algo diferente na sala de aula e dá certo! Como a ideia do blog é compartilhar experiências, resolvi postar sobre o que tem ocorrido nas minhas aulas nas últimas semanas. Nas últimas duas semanas estamos vivenciando uma atividade voltada para o ensino de valores. Estou passando nas turmas o filme "Mãos Talentosas", que conta a história real do neurocirurgião pediátrico estadunidense Ben Carson. Com uma infância marcada por dificuldades no aprendizado, racismo, problemas financeiros, entre outros problemas,  ele superou tudo isso e se tornou um dos principais expoentes em sua área profissional. O filme destaca a participação decisiva da mãe de Carson em sua trajetória. Ela o incentivou muito a estudar, embora fosse uma pessoa semianalfabeta. O filme é ótimo! Foi recomendado a mim pelo colega da Escola Municipal República Árabe da Síria, professor Fernando, de Língua Portuguesa (Valeu, Fernando! =) )
Depois de passar o filme para a turma, estou colocando em prática uma sugestão de trabalho em grupo encontrada no livro "O dia a dia do professor" (Editora Nova Fronteira). Os alunos são divididos pelo professor em trios. Essa divisão não deve se basear na afinidade entre os alunos, mas sim em suas diferentes habilidades.  Dividi a turma distribuindo números iguais escritos em papeizinhos para formar cada trio, o que também pode ser feito com cores diferentes. Esse tipo de divisão mais lúdica ajuda a atrair o interesse dos alunos para o trabalho. Claro que muitos deles reclamam por não sentarem junto a seus amigos, mas explico que o objetivo do trabalho requer que seja dessa maneira. Comentários de discriminação são logo corrigidos e o aprendizado começa aí.
Depois de formados os agrupamentos, cada membro irá desempenhar uma função diferente, a ser estabelecida entre eles. O coordenador orienta a discussão fazendo perguntas para o grupo a fim de extrair a opinião dos colegas. O redator anota a opinião do grupo, e o apresentador faz o papel de porta-voz da equipe, transmitindo para os demais colegas o que o seu trio concluiu. Dessa forma todos os alunos participam ativamente da tarefa, evitando a prática tão recorrente de "ficar na aba" dos colegas mais empenhados. 
Enquanto os alunos estão construindo o saber através da interação produtiva uns com os outros, o professor percorre a sala ajudando onde é necessário, estimulando a participação de todos na atividade e resolvendo problemas que podem aparecer ao longo do processo.
Esta atividade é muito produtiva pois proporciona o desenvolvimento de habilidades importantes como a troca de ideias, a tomada de posição e a argumentação. Outro aspecto importante é fazê-los conversar com colegas com os quais não têm muito contato e levá-los a respeitar as diferenças entre os membros da turma.
Depois de um tempo determinado pelo professor para a realização da discussão e anotação da opinião do grupo sobre aspectos do filme, é a vez de apresentar os pontos de vista de cada equipe. Uma boa sugestão é fazer isso com a turma disposta em um círculo. Os alunos podem consultar o material preparado pelo redator, mas o ideal é que este seja apenas entregue ao professor e que o apresentador fale sem ler sobre o que foi discutido pelo grupo.
Realizei com êxito essa atividade nas minhas turmas do segundo seguimento do ensino fundamental no Ciep Roberto Morena e na E.M. República Árabe da Síria (bairro de Paciência, zona oeste do Rio de Janeiro). 
Os alunos gostaram muito dessa forma de trabalho e se beneficiaram mutuamente com uma ótima troca horizontal. Me surpreendi positivamente com o envolvimento das turmas. Pouquíssimos alunos não se dedicaram. 
Acredito que seja muito válido trabalhar com a interação entre os alunos. Além de nos poupar bastante, ela gera muitos aprendizados!
Abaixo o cartaz do filme e a capa do livro, com a fotografia do Ben Carson.





sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Sala de aula democrática

Não seria justo que, na sala de aula,  todos tivessem as mesmas oportunidades de aprendizado? Pois é! Infelizmente, muitas vezes não é isso que acontece.
Lendo o livro "Aprendizagem significativa", do Julio Cesar Furtado dos Santos (Editora Mediação, 2013) redescobri algo que aprendi na graduação, mas que foi sendo esquecido com o tempo na agitação do cotidiano: nem todo mundo aprende do mesmo modo!
Existem três modalidades básicas de aprendizagem diferentes: visual (aprendizagem por meio da visão), auditiva (aprendizagem pela audição) e cinestésica (aprender interagindo/fazendo/sentindo).
Todas as pessoas possuem as três modalidades, mas a maioria tem uma predominante. Algumas pessoas possuem um equilíbrio entre duas e até mesmo entre as três.
O autor destaca que "um ensino efetivo requer uma variedade de métodos e estratégias que abranjam as três modalidades de aprendizagem". Ele ainda dá sugestões de estratégias de acordo com cada modalidade.

  • VISUAL: Sequência lógica de imagens, demonstrações, cópia de notas, destaque em texto com canetas "luminosas", fichas de anotações, código de cores, diagramas, fotografias, gráficos e mapas, vídeos e filmes, mapas mentais, abreviaturas.
  • AUDITIVA: Leitura em voz alta, instruções orais, palestras, repetir ideias oralmente, uso de sons e ritmos, poemas, rimas e associação de palavras, grupos de discussões, músicas.
  • CINESTÉSICA: Experiências, dramatização, jogos, resolução de problemas, excursões, anotações próprias, fazer representações pessoais, representação corporal, associação de conceitos e emoções.
Ao ler este capítulo do livro, percebi que nas minhas aulas tenho priorizado demais as modalidades visual e auditiva e deixado de lado a cinestésica. Acredito que isso ajude a explicar o porquê de alguns alunos não se interessarem pela aula. Esses alunos, que muitas vezes classificamos como "agitados demais", "bagunceiros" ou "indisciplinados" talvez não vejam sentido no que está sendo ensinado exatamente por terem dificuldade em aprender, afinal a sua modalidade de aprendizagem predominante quase nunca é utilizada na sala de aula.
Vale a pena rever o planejamento e democratizá-lo, diversificando os métodos e estratégias de ensino a fim de contemplar a todos.

As  imagens abaixo mostram duas sugestões de atividades que exploram a modalidade cinestésica. A primeira mostra um jogo que desenvolve o raciocínio lógico e as outras duas sugerem dramatização dos conteúdos pelos próprios alunos.





E você, tem alguma experiência nesse sentido pra compartilhar? Já fez ou faz algo que tem dado certo? Poste nos comentários!

Abraços!


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Boas vindas!

Seja bem vindo ao blog Escola Viva!
A ideia que motivou a criação deste espaço foi compartilhar.
Pretendo expor aqui algumas de minhas vivências como professora da educação básica e convido você a refletir junto sobre a nossa prática docente através de seus comentários, críticas, sugestões, e, principalmente, dividindo também as suas experiências.
Que o Escola Viva tenha uma existência significativa para todos nós!
Abraços!